Cães e gatos

Observe o GATO: ele não faz nada sem antes VEROUVIR. A caça é uma tocaia, operação baseada na visão e audição. O ato de se alimentar é feito sem pressa, olhando cada naco, escutando cada mastigação. O acasalamento então, é um espetáculo de sons e imagens, um show! Cada um mostrando ao outro do que é capaz. Só assim eles se vêem e ouvem mutuamente, caso contrário não ativam a libido sexual. O desejo inato de VER/OUVIR, pois, antecedendo a todos os demais, é o fato sensorial mais significativo do instinto FELINO.

Animal de libido VO

Dos persas aos siameses, selvagens ou domésticos, um fato comum a todos os gatos é que eles preferem VER/OUVIR a SEREM VISTOS/OUVIDOS.

O cenário sensorial

1.1 VETOR SENSORIAL

A convivência com felinos revela que o dia a dia de um gato é uma constante busca de lugares para se esconder, o que indica o seu prazer instintivo em ``não ser visto e ouvido´´. A observação semiótica `primária´ sugere que essa é a `primeira´ grande opção do instinto FELINO na dimensão comunicacional. É o vetor que fornece a `direção inicial´ ao seu plano corporal (este se ajusta para VER/OUVIR e não para SER VISTO/OUVIDO)... e o explica, a começar da sua linguagem não-verbal.

1.2 LINGUAGEM NÃO VERBAL

Vejamos... O seu gesto mais característico ao iniciar uma relação é o famoso `se afastar´ e `se contrair(agachar)´, ou seja, o `` se diminuir de tamanho´´ diante do interlocutor...

Linguagem não verbal

O DIMINUIR DE TAMANHO

Ora, o que está por trás deste comportamento linguístico aparentemente tão estranho? A libido VO explica:

...ao se diminuir de tamanho, o gato diminui o efeito da sua presença e assim tem condições de VER e OUVIR o outro do jeito que o outro é, do jeito que o outro está - a verdade - e não o outro alterado pelo efeito da sua proximidade física. Gatos não se escondem dos elementos do ambiente porque são traiçoeiros e outros adjetivos mais, ...e sim para ``ver e ouvir os elementos do ambiente em sua realidade´´. Esta é a justificativa primária, a que está na origem da sensorialidade felina, na raiz da sua biologia.

GatoÉ natural que o animal que se posiciona para VEROUVIR, e portanto, que depende prioritariamente da visão e audição para sobreviver, deseja VER e OUVIR a verdade! Questão de sobrevivência!

1.3 PROSSEGUINDO ...

A observação da linguagem sensorial FELINA sugere que o desejo de VER e OUVIR direciona não apenas olhos e ouvidos, mas todos os atributos corporais de um GATO. É o seu caractere `direcionador´. O bigode sensível, os membros facilmente dobráveis, a respiração silenciosa, a fonação discreta, ...visam propiciar a ele o se DIMINUIR DE TAMANHO em imagem e som, para que por sua vez, possa satisfazer o desejo mais elementar do seu instinto: ver e ouvir os elementos do ambiente do modo mais verdadeiro possível.

Prosseguindo..

E como os atributos corporais de um animal têm origem na informação molecular, representaremos o DNA de qualquer FELINO por essa figurinha elementar:

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Por este ponto vamos deixar de lado o GATO e observar o CACHORRO.

1.4 CACHORROS

Imagine-se caminhando com seu cachorro, quando lá na esquina alguém cantarola uma linda melodia! Na certa que o seu amigo a ouvirá e verá o cantante. Mas o que acontece? Tão logo detecta o som, parte como uma flecha na direção da sua fonte, para fazer o que mais gosta: chamar a atenção sobre si, em outras palavras, SER VISTO E OUVIDO. Pula no cantador, mostra os dentes, late ... Infelizmente a melodia será interrompida!

Conclusão: cães vêem e ouvem, mas não gostam de ver e ouvir. Se gostassem, posicionariam-se para isso. Para eles `ver e ouvir´ é um meio, `fazerem-se vistos e ouvidos´, o fim!

Cachorros

1.5 POODLES

Repare no comportamento do seu poodle quando você chega em casa: ele corre de um lado para outro, gesticula, late e os olhos e orelhas junto! Será que com essa movimentação toda, ele está lhe vendo e ouvindo direito? É lógico que não! O quê, então, o corpo dele está lhe dizendo?

por favor, meu dono, me olhe e me ouça

Para a `observação zoosemiótica elementar´, enquanto no mais íntimo do genoma felino está a opção VO, no mais íntimo do genoma CANINO está a SVO.

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1.6 TOCAIA E PERSEGUIÇÃO

Se a caça felina padrão é uma tocaia, atividade baseada no ver/ouvir, a canina é uma perseguição. O cão se apresenta à presa e parte no seu encalço pelo caminho mais curto, percorrendo atalhos para chegar mais rápido. Ao se mostrar ao interlocutor, este perde um segundinhos, o que pode lhe ser fatal!

A caça

Tocaia e perseguiçãoMuitos caninos, por necessidade do contexto, como por exemplo, quando a caça é rara, desenvolveram modos de se esconder e inclusive aparentam se utilizar dos olhos e ouvidos `quase como felinos´. Mas essa conduta é uma linguagem secundária. Por baixo dela atua a primária. Observe o perdigueiro `amarrando´ a presa: afora que ele a `vê pelo nariz´, ... o focinho adiantado e o corpo esticado parecem dizer ``não vejo a hora de ser visto e ouvido!´´

1.7 DOIS MUNDOS

À primeira vista, cães e gatos não são tão diferentes. Ambos são mamíferos, carnívoros, ouvem à distância, fazem companhia ao homem. Sensorialmente, no entanto, eles são não só diferentes como opostos entre si. São dois mundos!

Se a atitude-paradigma dos FELINOS é o se DIMINUIR DE TAMANHO para melhor VER/OUVIR, a dos CANINOS é o SE AUMENTAR DE TAMANHO para melhor SEREM VISTOS / OUVIDOS... e não importa a raça: dos salukis aos poodles, passando por lobos e vira-latas, cada qual a sua maneira, isto é, conforme suas peculiaridades psicofisiológicas, todos os CANINOS tendem a aparentar aos seus interlocutores `serem maiores do que são´, a se AUMENTAREM DE TAMANHO em imagem e som!

1.8 COMPLETANDO O RACIOCÍNIO

A observação linguística elementar indica: se o trabalho sensorial predileto de qualquer felino é ``RECEBER a imagem e o som do outro´´, o de qualquer CANINO é ``EMITIR a própria imagem e som aos outros´´. São tarefas audiovisuais opostas, posturas comunicacionais complementares: uma de natureza RECEPTORA, a outra EMISSORA. Esta oposição sensorial, por sua vez, explica as atitudes antagônicas abaixo:

Completando o raciocínio

Enquanto o GATO, na qualidade de RECEPTOR de informação, tende a priorizar a mensagem do interlocutor (a sua ele guarda para si, vide a TOCAIA), ... os CACHORROS, na qualidade de EMISSORES de informação, priorizam a própria mensagem. Ao se relacionarem é ela que importa! É por isso, internauta, que os cães latem!

Instintos

A constatação deste tópico nos remete à questão: a oposição fenotípica acima tem correspondência genômica? Em caso afirmativo, onde essas informações podem estar localizadas? ... No contexto da EVODEVO, estarão `abaixo´ ou `acima´ do nível dos genes HOX e PAX?

Planos corporais

Uma possível resposta: ...

Genes vetores sensoriais

1.9 INTERVALO

Internauta-leitor, esqueça tudo o que sabe sobre biologia animal e se fixe unicamente no conceito chave re-introduzido pela EVO-DEVO:

PROJETO CORPORAL

E imbuído dessa expressão,
passe 24 horas com um GATO!

GatinhoCachorrinhoSe aventure com ele pelos telhados. Acompanhe-o caminhando sobre a grama, atento ao menor ruído, ao mínimo movimento das folhagens, ... diferenciando o que é ação do vento e o que não é.

Em complemento, conviva igualmente por 24 horas com um CACHORRO, esquecendo tudo o que lhe venha a cabeça sobre este animal, a menos da idéia de ``projeto corporal´´ ...

Inevitavelmente concluirá:
enquanto o corpo FELINO é projetado para VEROUVIR,
o CANINO para SERVISTOOUVIDO!

1.10 MAIS POODLE

Mais poodleObserve o seu, fazendo caretas e latindo para a vizinha! Evidente que ele não tem prazer instintivo algum em vê-la e ouvi-la, mas sim em ver e ouvir o efeito da própria presença na interlocutora, em outras palavras, em VER E OUVIR A SI NO OUTRO!

Para um cachorro, VER e OUVIR o outro como um gato vê e ouve - do jeito que o outro é, do jeito que o outro está - sem interferir, é a coisa mais sem graça do mundo! Por isso ele late, avança, interfere ... e assim, deixa de ver e ouvir o outro e passa a VER e OUVIR A SI!

O instinto

1.11 OLFATO

Sem dúvida que o animal orientado pelo caractere VO desenvolveu a libido audiovisual, o prazer instintivo em utilizar os órgãos da visão e audição. Já o animal orientado pelo caractere SVO, não tendo esta libido, a sua face restou livre para desenvolver o prazer olfativo, em outras palavras: o prazer `migrou´ dos olhos e ouvidos para as narinas. Isso não quer dizer que gatos e cavalos não cheiram. Cheiram sim, inclusive têm o faro aguçado. Só que não cheiram por prazer! A linguagem corpóreo-sensorial fala por si. Observe o GATO cheirando: as narinas se afastam da fonte do cheiro...

Intervalo para o olfato

O bom senso sugere que há uma briga entre visão/audição e olfato. Não há lugar para as duas libidos na mesma face!

1.12 SÍNTESE COMUNICACIONAL

Os tópicos precedentes podem ser resumidos conforme segue...

Enquanto os atributos físicos de um FELINO (orientados pelo caractere direcionador VO) constituem um corpo capaz de SE DIMINUIR DE TAMANHO para melhor VER / OUVIR, os de um CANINO (orientados pelo caractere direcionador SVO) formam um corpo capaz de SE AUMENTAR DE TAMANHO para melhor SER VISTO/OUVIDO.

Atente para o GATO: a boca fechada, a língua escondida, os gestos cuidadosos, a respiração silenciosa. Tudo nele o faz parecer `ser menor do que é´. No CACHORRO, em complemento, a linguagem corporal oposta o faz parecer `ser maior do que é´: a boca aberta, a língua exposta, os gestos descuidados, a respiração ruidosa!

A linguagem do aparentar

E os atributos físicos de gatos e cães sendo reflexos das suas informações moleculares, podemos diferenciar os seus DNAs conforme exposto no tópico 2.8:

Síntese comunicacional